Main Tulsi Tere Aangan Ki (1978)



Ficha Técnica
Direção: Raj Khosla 
Roteiro: Raj Bharti, Chandrakant Kakodkar, G.R. Kamath, Rahi Masoom Reza, Suraj Sanim
Obra original: Ashi Tujhi Preet de Chandrakant Kakodkar
Direção Musical: Laxmikant-Pyarelal
Ano: 1978
Estrelando: Asha Parekh, Nutan, Vijay Anand, Vinod Khanna e Deb Mukherjee

Main Tulsi Tere Aangan Ki (trad. "Eu sou o manjericão do seu quintal") tem a premissa de um filme dos anos 60, as canções de um filme dos anos 60, as estrelas dos filmes dos anos 60, e de alguma forma conseguiu se perder no tempo e ser lançado praticamente às portas dos anos 80. Não sei o que rolou, mas o resultado dessa miscelânea é um filme que tenta organizar o caos. 

O filme conta a história de Tulsi (Asha Parekh), uma cortesã que se apaixona pelo aristocrata Thakur Rajnath Singh Chouhan (Vijay Anand) após ser protegida por ele das garras de sua cafetina. O amor de ambos não é aceito pela sociedade e nem pela mãe de Rajnath, que se recusa a receber uma cortesã como parte da família. A fim de evitar o sofrimento de todos, a bondosa Tulsi convence seu amado Rajnath a se casar com alguém de sua classe e status social, o que ele faz a contragosto. Rajnath se casa com a tradicional Sanjukta (Nutan), levando uma vida conjugal distanciada da esposa. Após Tulsi sacrificar seu amor pelo bem da nova família que ele se recusa a construir, diversos eventos se desenrolam até chegarmos aos tempos atuais, quando Pratap (Deb Mukherjee) e Ajay (Vinod Khanna), filhos de Sanjukta e Tulsi, disputam espaço como herdeiros de Rajnath. 




Asha Parekh sempre foi vista como uma bubbly girl no início de sua carreira, marcada por atuações em filmes divertidos, movimentados e de pouco peso dramático. Enquanto suas contemporâneas como a própria Nutan, Sharmila Tagore e Waheeda Rehman tiveram seus desempenhos dramáticos reverenciados em dramas como Sujata, Aradhana e Guide, durante anos não vimos o trabalho de Asha receber a mesma admiração por parte da crítica. O final dos anos 60 e início dos anos 70 finalmente trouxeram alguma glória e atenção para Asha como atriz, e não apenas heroína. Esta nova fase de sua carreira tem seu ápice em Main Tulsi, pois Tulsi não é um papel fácil. Sua abnegação extrema e ideais superiores a afastam de nós, meros mortais guiados por nossos desejos e maldades. Contudo, a expressividade do olhar que Asha imprimiu à personagem, além de suas posturas carinhosas com o outro, fazem de Tulsi uma das personagens mais gostáveis que já vi no campo das prostitutas e cortesãs. O trabalho de toda a equipe do filme, especialmente o belíssimo figurino, nos entrega uma Tulsi sempre bela e modesta. Enquanto Asha Parekh teve em Tulsi uma nova oportunidade em sua carreira, Nutan tem em Sanjukta uma certa repetição de outras personagens dignas e imaculadas que já havia feito. O que recebemos de novidade foi um roteiro, no primeiro ato, focado nas duas personagens femininas. E mesmo com o discurso extremamente moralista dessa parte do filme, o carisma de Asha e Nutan preenche a tela. Os embates e sofrimentos de ambas as mulheres são definitivamente o ponto alto do filme.




A partir da segundo ato o foco da narrativa é deslocado para os personagens masculinos e é neste momento que a coisa desanda. A história deixa de ser sobre Tulsi e foca-se na disputa dos irmãos Pratap e Ajay. Temos sequências sem pé nem cabeça, muita violência contra a mulher a troco de nada e uma quantidade dispensável de cavalos. Uma Mojo Dojo Casa House sem um Ken para sustentar meu interesse enquanto espectadora. Detesto quando o cinema hindi utiliza muitas cenas de violência contra a mulher para estabelecer a diferença de caráter entre antagonistas de um filme, especialmente porque muitas vezes esses personagens recebem uma não-merecida redenção após cometerem diversos crimes sexuais, sendo perdoados como se apenas tivessem se desviado do caminho do bem. Vinod Khanna atua bem dentro do pouco que lhe foi exigido, porém os outros protagonistas masculinos são fracos. Vijay Anand, querido diretor que só Deus sabe por que decidiu se aventurar como ator, só não consegue destruir todas as cenas da primeira parte porque Asha e Nutan carregam o filme sem esforço.



Além de a história mudar os personagens em destaque, o próprio ritmo do filme muda intensamente. Antes tínhamos um melodrama bastante sessentista e com um ritmo mais lento que é substituído por diversas cenas longuíssimas de ação sem razão de ser além de nos mostrar a persona viril de Vinod Khanna — o que definitivamente não é um problema para mim, desde que seja em um bom filme. E acredito que já tenha esclarecido que este não é o caso, considerando também que nem a trilha de Laxmikant-Pyarelal salva a experiência. A canção que dá título ao filme, Main Tulsi Tere Aangan Ki, acaba sendo o único destaque da trilha sonora. Além do tom melancólico que muito me lembrou musicais tristes dos anos 50, Lata Mangeshkar entrega alguns dos melhores vocais da sua carreira. O vídeo, com belos usos da luz do entardecer, entrega uma experiência quase religiosa com seus raios de luz invadindo a escuridão. É sem dúvidas um dos melhores das carreiras de Asha e Nutan.


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O título do filme faz referência ao manjericão que costuma ficar nos pátios das casas, considerado sagrado na tradição hindu por ser visto como uma das manifestações da deusa Lakshmi. Assim como o manjericão, Tulsi enxerga a si mesma como protetora da casa de seu amado, não parte dela. Ela simboliza uma história de sacrifício, e talvez este seja o legado mais coerente deste filme. Foram sacrificados o roteiro, as atuações e qualquer senso crítico por parte da indústria, que coroou esta obra terrível e inconstante com os prêmios Filmfare de Melhor Filme, Melhor Diálogo e Melhor Atriz (Nutan). Às vezes se paga um preço muito alto para ser fã de Nutan.

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